Terragnolo

Vinícola Terragnolo!!!

V³: Vinho, Vida e Viagem

Amigos.
Último texto deste início de cobertura das vinícolas brasileiras. Em breve voltaremos a falar deste assunto por aqui.
Boa Leitura!

Nossa terceira e última parada (se você perdeu os 2 primeiros posts, leia aqui. Marco Luigi e Don Laurindo) desta visita pelas vinícolas do Vale dos Vinhedos na Serra Gaúcha foi a Terragnolo.

Apesar da história dessa vinícola se misturar com a da Casa Valduga, a Terragnolo é a vinícola mais jovem que fomos conhecer. Foi fundada em 1999 por Sandro Valduga, bisneto de Luigi Valduga, trazendo com ele toda a tradição e cultura da família que chegou ao Brasil em 1875. Os primeiros vinhos são de 2005 e são elaborados com 100% de uvas dos próprios vinhedos, cuidados pessoalmente pelo Sandro.

Um diferencial dessa vinícola é que é possível comprar as barricas de vinho e colocar o nome/rótulo que quiser (barricas de 225 litros ou cerca…

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A França como laboratório político

A França como laboratório político

https://www.publico.pt/2018/12/15/mundo/opiniao/franca-laboratorio-politico-1854349?fbclid=IwAR3FDkYqma7dbMkB61ZJuIMIuUsIFwuIrZ4gjZ-utqWxCSGAXfnyRwB46m8

Os “coletes amarelos” são de alguma forma um alerta lembrando que a integração europeia não pode ser feita à custa da soberania nacional.
15 de Dezembro de 2018

Vivi em Paris entre 1967 e 1974. Foi sem dúvida uma das épocas mais felizes da minha vida, durante a qual aprendi a amar o país e sobretudo a sua capital, que até hoje considero uma das mais belas cidades que conheço. Em Maio de 1968, a insurreição estudantil chegou à Sorbonne, onde eu estudava, e de imediato identifiquei-me com ela sem pensar duas vezes: era também a “minha” revolução, vivi-a intensamente na rua e dela guardo até hoje uma memória intensa e feliz.

Hoje, 50 anos depois, há quem pretenda comparar o “Maio de 68” com a revolta dos “coletes amarelos”. Mas na verdade só se assemelham no que é acessório: na dimensão das manifestações e do seu alastramento a diversas camadas sociais, em alguma violência por parte de franjas extremistas de manifestantes (bastante maior hoje) e pouco mais. Tudo o que é essencial separa os dois movimentos. Em primeiro lugar, o contexto económico, social e político. Contrariamente aos dias de hoje, vivia-se na época um período de prosperidade e de desenvolvimento económico, assim como do seu corolário, o consumismo. O Estado social era uma realidade, havia trabalho e acesso à habitação, o futuro não parecia ameaçado e na verdade nem se pensava muito nele, vivia-se o presente. Pelo menos do ponto de vista dos estudantes de quem partiu o movimento.

Essa é outra grande diferença relativamente aos dias de hoje. Quem iniciou o movimento dos “coletes amarelos” são os esquecidos da globalização (que não existia à época), as classes média e média baixa que vêem descer progressivamente o seu poder compra e o seu estatuto social, cujo dia-a-dia é cada vez mais difícil e mais precário. Gente sobrecarregada de impostos e cada vez com maior dificuldade em adquirir ou alugar uma casa ou educar convenientemente os seus filhos, ao mesmo tempo que assiste à concentração de enormes fortunas nas mãos de uns poucos. Aliás, nada de novo para grande parte dos países europeus.

 

O atentado contra a democracia.

“Sigam o dinheiro.”
O executante foi escolhido a dedo. Sem vínculos familiares mais sólidos, uma formação política sectária e a disposição ao sacrifício. Enfim, um jihadista perfeito. Missão: perfurar o candidato adversário e morrer pela causa, tornando-se um mártir a ser festejado pelos seus.
Mas a segunda parte do plano falhou. Ele não foi morto. Misteriosa e rapidamente entra em ação uma banca de advogados mineiros, caríssima.
Quem banca a banca? Um filantropo que paga em dinheiro vivo. Interessante… alguém sem vínculos encontra um filantropo desconhecido disposto a desembolsar uma boa grana para custear uma banca caríssima.

Quem tem estas altas somas guardadas em casa? Difícil de dizer. Mas a lei exige que movimentações acima de R$ 50.000,00 sejam avisadas com antecedência e se informe beneficiário e motivo da transação.
Polícia Federal: “Sigam o dinheiro” e encontrarão o(s) mandante(s).

E se Adélio tivesse uma arma ao invés de uma faca? Perguntam para confrontar Bolsonaro.
Adélio poderia ter uma arma, afinal bandido não reconhece o estatuto do desarmamento, não é mesmo?
Mas não era esse o objetivo. Uma arma, um tiro, confusão, corre-corre, pessoas sendo pisoteadas, feridos, talvez até mortos. Adélio, sabendo de antemão o que iria ocorrer, iria se safar. Mas não era esse o objetivo.
O objetivo era sangrar Bolsonaro e ter Adélio morto, um mártir.
Repito, o objetivo era sangrar Bolsonaro e criar um mártir.
O plano falhou, então entraram em cena os advogados (quatro, para um desempregado?).
Quem ganharia com esse cenário?

Eu tenho um palpite…

Sobre fascismo.

O voto em Lula da Silva é um voto ideológico. Condenado em segunda instância, por lei por ele mesmo sancionada, Lula é inelegível.
Zanin, seu fiel advogado, tenta de todas as maneiras burlar a lei, mas sua inelegibilidade é confirmada. Mesmo assim, os militantes e a cúpula do partido insistem em querer votar em Lula, colocando-o acima da lei.
Quando a ideologia busca submeter a Justiça temos o mais claro e escancarado exemplo de fascismo. O voto em Lula é um voto fascista.

O golpe petista de 2018.

“É óbvio e ululante que o mero anúncio de intenção de réu preso de ser candidato a cargo público não tem o condão de reabrir a discussão acerca da legalidade do encarceramento, mormente quando, como no caso, a questão já foi examinada e decidida em todas as instâncias do Poder Judiciário”. Laurita Vaz (presidente do STJ)

Humberto Jaques de Medeiros (vice-procurador-geral da República ): “Nestes termos, Desembargador Federal plantonista não possui atribuição para expedir ordem liminar em habeas corpus contra decisão colegiada da própria Corte, eis que a competência para esse tipo de impugnação é do Superior Tribunal de Justiça.”

João Pedro Gebran Neto (desembargador federal e relator da Lava Jato): “Não há amplo e ilimitado terreno de deliberação para o juiz ou para o desembargador plantonista” e “O plantão judiciário não se destina à reiteração de pedido já apreciado no órgão judicial de origem ou em plantão anterior, nem à sua reconsideração ou reexame.”

Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz (presidente do TRF4): “A situação de conflito positivo de competência em sede de plantão judiciário não possui regulamentação específica e, por essa razão, cabe ser dirimida por esta Presidência”. Thompson Flores determinou que o HC retornasse ao gabinete de Gebran e manteve a decisão do desembargador para que Lula continuasse preso.

Walter Fanganiello Maierovitch (jurista e desembargador aposentado): “Hierarquicamente, não dá para um juiz de plantão revogar uma decisão de uma turma que é do próprio tribunal dele”.

Carlos Velloso (ex-presidente do STF e do TSE): “Não há irregularidade na conduta do juiz Sergio Moro de dar despacho no caso mesmo estando em férias. Um juiz vocacionado é juiz 24 horas por dia”. Velloso qualifica de estranha a insistência de Favreto, juiz plantonista, em determinar a soltura de Lula mesmo após o relator titular do caso, Gebran Neto, ter se manifestado pela manutenção da prisão.

Laurita Vaz (presidente do STJ): a presidente do STJ avaliou como “inusitada e teratológica” a decisão de Favreto, acrescentando que mostra um “flagrante desrespeito” às decisões tomadas pela 8ª Turma do TRF-4 e pelo Supremo Tribunal Federal.

O candidato Ciro Gomes.

O candidato Ciro

por Felipe Moura Brasil em O Antagonista (09/08/2017)

O ex-ministro dos governos de Itamar Franco e Lula e pré-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT-CE), em participação no programa ‘Pânico’, da rádio Jovem Pan, ecoou a narrativa do PT em diversos pontos:

– Defendeu Dilma Rousseff do impeachment, alegando que manobras contábeis do governo não configuram crime de responsabilidade;

– Defendeu Lula da sentença de condenação proferida por Sérgio Moro no caso do triplex, alegando que o juiz escreveu 238 páginas por não ter uma que fosse a prova cabal da corrupção passiva e da lavagem de dinheiro de propina do petrolão;

– Acusou Moro, na prática, de ter cometido um crime ao divulgar a conversa interceptada de Lula e Dilma sobre o termo de posse;

– Criticou a ordem de condução coercitiva de Lula sem intimação anterior.

Mesmo assim, Ciro:

– Ironizou os R$ 9 milhões de aposentadoria de Lula;

– Declarou apoio a Lava Jato;

– Celebrou as prisões dos peemedebistas Sérgio Cabral e Eduardo Cunha;

– Chamou o chefe da Casa Civil de Eliseu “Quadrilha”;

– Disse que teria votado pelo prosseguimento da denúncia contra Michel Temer porque caberia ao STF julgar, mas que ela tampouco continha a prova cabal da corrupção passiva, ainda que o presidente seja mesmo “chefe de quadrilha”, segundo Ciro.

O pré-candidato ainda buscou se distinguir de petistas e tucanos:

“Eu nunca aceitei que o Brasil tivesse que optar entre PT e PSDB. Eu fui fundador do PSDB, eu ajudei fazer o [Plano] Real; e eu ajudei o PT. São iguais: um com uma nuance mais de eficiência econômica, o outro com uma nuance mais de apelo social, mas a economia política, o modelo de compreensão das coisas no Brasil e as práticas são rigorosamente iguais.”

Sobre a igualdade das práticas, eis o exemplo dado por Ciro:

“O Marcos Valério, [operador] do mensalão, foi recrutado pelo [banqueiro] Daniel Dantas porque, para os políticos do PT de São Paulo, [isto] era aparentemente o crime perfeito. Por quê? Porque [o Marcos Valério] era o operador do PSDB. Então, se eu capturo você que trabalhava para o meu adversário, e você vem fazer para mim a mesma coisa, o outro não vai jamais denunciar.”

Ciro também falou do quadro eleitoral de 2018:

“Ninguém chega como favorito. O Lula sabe disso, por isso vai pensar muito se será candidato ou não. Porque o Lula tem uma situação muito peculiar, qual seja: ele é 100% conhecido, está no Jornal Nacional todo dia; preferido por 30% e rejeitado por 50%. Então esse é um candidato que parte bem e não chega, porque o segundo turno praticamente é hostil a ele por conta da rejeição. E o Lula é o mais esperto de todos.

Ele sabe bastante bem que ele precisava construir uma narrativa de vítima, de perseguição, para ‘coesionar’ o PT, que estava se esfarinhando, e segurar a tropa para ele chegar com alguma força lá na frente. Acho, porque tenho uma admiração pela inteligência dele, que ele próprio perceberá que não vale a pena. Se ele chegar a essa conclusão, que é o meu cálculo, o que acontecerá? Você terá cinco candidatos na faixa de 15% a 6%, portanto uma eleição completamente aberta que será definida no debate.”

Provocado como alguém que conta com a própria “eloquência” para se beneficiar deste cenário, Ciro preferiu corrigir, alegando que, na verdade, tem “conteúdo”.

Nessa linha, aliás, aproveitou para afetar superioridade a Jair Bolsonaro, ao avaliar o crescimento do deputado nas pesquisas, apontando seu “despreparo”:

“Ele toscamente responde a duas grandes questões da sociedade: uma a violência, a segunda a corrupção. Só que esses dois problemas não são resolvidos com frase-feita.”

Muito menos, certamente, fazendo vista grossa aos crimes de Lula e Dilma.

felipemb@oantagonista.com

Os partidos morrem. E o socialismo?

Reproduzo texto do jornal Público (Portugal):

Os partidos morrem. E o socialismo?

Por Rui Tavares (22/05/2017)

O que se perde nesta dupla deriva neoliberal ou neonacionalista é, no fundo, o próprio socialismo.

Os socialistas espanhóis foram ontem votar, como noticiou o PÚBLICO, perante a ameaça de tombarem na irrelevância política. Não é para menos: após os casos da Grécia e da Holanda, um terceiro partido socialista europeu colapsou e arrisca-se a desaparecer em França. Que se passa?

 

Poderíamos encolher os ombros dizendo que isto é o que acontece aos partidos que perdem sentido: não sendo por necessidade eternos, desaparecem. Mas essa é ainda uma explicação curta, porque aquilo que nos deve interessar não é tanto o que sucede ao partido, mas acima de tudo o que acontecerá às ideias que em tempos o animaram. Os partidos socialistas podem morrer, já se viu. E o socialismo?

 

Esgravatando um pouco mais, uma das explicações para o definhamento dos partidos socialistas é que deixaram de ser socialistas. Sem ideias perante a globalização, a crise ecológica ou a financeirização do capitalismo, os socialistas de “terceira via” acabaram por aceitar que o mercado fosse, com um toque aqui e outro ali, a principal via de fornecimento de bens públicos à população. Onde havia obras públicas, passou a haver parcerias público-privadas. Onde havia políticas de habitação, passou a haver empréstimos imobiliários. Onde havia aumentos de salários, passou a haver cartões de crédito para pagar com cada vez mais dificuldade ao fim do mês.

 

Este diagnóstico, que costuma ser feito à esquerda dos partidos socialistas, parece-me em grande medida correto. O meu problema não é com o diagnóstico, mas com o prognóstico. Se é verdade que a esquerda perdeu a sua capacidade propositiva desde o fim da guerra fria, não é menos verdade que ela não a vai conseguir recuperar se insistir em roubar ideias à direita. E isso, no entanto, é exatamente o que alguma esquerda eurofóbica está a fazer. Onde numa ponta da esquerda os mais centristas foram buscar o neoliberalismo a Thatcher e a Reagan, na outra ponta os mais extremistas foram buscar à direita o discurso populista e anti-União Europeia. Num caso como noutro, o resultado não pode ser bonito. As ideias têm vida própria: é tão impossível importar o neoliberalismo e querer vesti-lo de esquerda socialmente justa como pensar que importando o neonacionalismo se consegue controlar a sua essência xenófoba e agressiva. Neste caso, na verdade, a ilusão é mais perigosa ainda, sabendo nós como o nacionalismo põe em causa a democracia, o estado de direito e os direitos humanos. Normalizá-lo é convidá-lo a reentrar na história e ganhar o poder. Sabemos o preço que se pagou por isso da última vez que sucedeu.

O que se perde nesta dupla deriva neoliberal ou neonacionalista é, no fundo, o próprio socialismo. O socialismo nasceu na revolução industrial, na Europa e em grande medida para a Europa também, a partir da noção — que ainda é válida — de que todas as sociedades europeias se encontravam diferenciadamente sujeitas aos efeitos dos mesmos impactos económicos. Para lidar com esta realidade, os socialistas foram beber à fonte do século XVIII as ideias cosmopolitas de uma solidariedade universal baseada na tríade liberdade-igualdade-fraternidade.

 

Tudo no que vemos à nossa volta, da automação do trabalho à revolução na medicina, das alterações climáticas à crise global dos direitos humanos, nos impele a procurar mais solidariedade universal e não menos. Mas tal como a cedência ideológica à desregulação dos mercados não resolveu, antes agravou, os nossos problemas de desigualdade, também a cedência ao fechamento nacional não contribuirá para mais do que nos deixar à beira do precipício autoritário. Ambas as derivas prolongam a situação de dependência e dominação em que muita gente vive quotidianamente e com isso impedem ou atrasam a emancipação humana. A esquerda não pode perder mais outra década sem apresentar o seu modelo para a globalização, modelo esse que não poderá deixar de passar pela Europa. Se não o fizer, arrisca-se a perder o comboio definitivamente.

UM GOLPE DE MESTRE

Reproduzo texto da Revista Piauí:

UM GOLPE DE MESTRE

Como os donos da JBS prepararam uma delação que os deixou de mãos livres e bolsos cheios

Por  CONSUELO DIEGUEZ (19 DE MAIO DE 2017)

No começo deste ano os irmãos Joesley e Wesley Batista foram à Procuradoria-Geral da República com uma proposta: queriam fazer uma delação premiada. A oferta era irrecusável. Os donos da JBS tinham na gaveta segredos inconfessos sobre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Os mais sombrios se referiam a uma frente ainda pouco conhecida e muito desejada pelos investigadores da operação Lava Jato e de seus desdobramentos: o BNDES, a maior caixa-forte de investimentos do governo, protegida sob um manto de legislação que impedia que policiais e órgãos de controle abrissem suas planilhas.

 

Os Batista queriam falar, mas antes de subirem os elevadores da Procuradoria-Geral da República eles arquitetaram um plano. Ao contrário dos empresários que se converteram em delatores após meses de cadeia, os irmãos acordaram com os procuradores que não seriam presos, sequer usariam tornozeleira eletrônica; suas empresas sofreriam o mínimo dano possível; Joesley Batista recebeu, inclusive, a garantia de poder continuar morando nos Estados Unidos, longe dos holofotes e de cenas constrangedoras em camburões e delegacias. “Foi um golpe de mestre”, disse-me um auditor do TCU. “Enquanto os outros empresários estão mofando na cadeia, eles conseguiram garantir sua liberdade e a segurança de seus negócios. Esses caipiras deram um banho em Marcelo Odebrecht.”

 

Os Batista ainda garantiram que a única penalidade que eles sofreriam seria o pagamento de uma multa de 225 milhões de reais. “Nem dá pra chamar de troco. Isso é uma meia gorjeta. É nada diante da quantidade de dinheiro que receberam do BNDES”, me disse o gestor de um grande fundo de investimento. “Eles montaram um império na base da corrupção e do dinheiro público e agora saem ilesos pagando apenas essa multa ridícula?”, questionou.

 

Ontem, o que se comentava no mercado financeiro era que a multa seria paga com dinheiro fruto do próprio plano pré-delação. Os Batista, conscientes do estrago que as divulgações das gravações de Temer e Aécio causariam no mercado – principalmente na cotação do dólar –, trataram de especular na Bolsa de Mercadorias e de Futuros, a BM&F.  Fizeram aplicações em moeda norte-americana, apostando na alta. Resultado: estima-se que, com essas operações, eles lucraram cerca de quatro vezes o valor da multa.

 

A esperteza da dupla também seduziu os americanos. Lá, eles se comprometeram a fazer um acordo de leniência entregando todo o esquema de corrupção com autoridades brasileiras. Em troca, eles poderão continuar operando suas empresas nos Estados Unidos.

 

Hoje, 80% da operação da JBS está fora do Brasil, o que é também motivo de crítica dos analistas. Eles questionam o fato do banco ter despejado tanto dinheiro em um grupo cujos negócios estavam sendo desenvolvidos no exterior, o que não geraria nem empregos nem renda no Brasil. Os Batista chegaram a tentar mudar a sede da empresa para a Irlanda, um paraíso fiscal, mas não receberam autorização do BNDES. Recentemente, tentavam transferir a sede do grupo para os Estados Unidos, onde se encontra a maior parte de suas fábricas.

 

Desde 2005, o BNDES vinha despejando vultosos recursos no caixa da empresa fundada pelo pai dos Batista em 1953. O pequeno açougue se tornaria a maior processadora de carnes do mundo, graças aos mimos do banco estatal. Foram 10,63 bilhões de reais investidos na companhia. Tamanha generosidade com a família Batista chamou a atenção do mercado. Empresários do setor e analistas batiam cabeça para tentar entender a razão para o BNDES ter despejado tanto dinheiro em uma única empresa, cujo impacto na economia seria baixo frente ao montante investido.

 

Os irmãos Batista já vinham sendo investigados antes da proposta de delação. Eles eram informados sobre as investigações por meio do procurador Ângelo Goulart Villela que atuava em uma das operações. Pagaram altas somas ao procurador para que ele os avisasse sobre o passo a passo das investigações que os cercavam. Villela, antes de ser afastado pela Procuradoria, acionou o alarme. Ele sabia que a corda estava por estourar.

 

Sentindo o cerco se apertar, os irmãos entenderam que a única saída seria propor ao Ministério Público um acordo. O medo dos Batista era terminar como os empresários Marcelo Odebrecht – controlador da empresa –, Léo Pinheiro, da OAS, e outros executivos de empreiteiras: na cadeia, forçados a confessar enquanto suas empresas derretem em praça pública, perdendo contratos e novos negócios. O foco de maior preocupação era o grupo J&F. Dono da JBS e de mais uma série de empresas nas áreas de papel e celulose, sabão e couro, o conglomerado poderia ser reduzido drasticamente, a exemplo de várias empresas envolvidas na Lava Jato.

 

O plano dos Batista, antes de o escândalo estourar, era fazer um IPO, uma oferta pública inicial de ações nos Estados Unidos, mas eles abortaram a operação diante da constrangedora situação em que se encontravam. Ao se apresentarem voluntariamente aos procuradores, os irmãos tinham muito mais informações a oferecer além da participação do BNDES. Durante anos, eles financiaram políticos de vários partidos. Nas eleições de 2014, a empresa doou 366,8 milhões de reais às principais campanhas.

 

A negociação com o MP foi muito bem alinhavada. Para salvar a própria pele, Joesley Batista gravou o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves em diálogos nada republicanos. Em um deles, com Temer, Joesley fala sobre Eduardo Cunha, o deputado cassado preso em Curitiba desde o ano passado. Ele diz: “dentro do possível, eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo o que tinha de alguma pendência”. O diálogo dá margem para a interpretação de que o empresário estaria comprando o silêncio de Cunha, que guardaria segredos capazes de entregar toda a cúpula do PMDB. Em outro, com Aécio, negocia uma propina diretamente para o senador. Joesley também se comprometeu com a Polícia Federal a colocar os chips nas mochilas que foram usadas para a entrega das propinas.

 

Desde 2015, o Tribunal de Contas da União tentava, sem sucesso, fazer com que o BNDES liberasse os dados das operações firmadas com a JBS. O banco se recusava a fazê-lo, alegando sigilo bancário. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal, que mandou a instituição abrir a caixa-preta. Mas, foi somente no ano passado que o banco finalmente enviou para o TCU a base de dados com todas as operações contratadas com a JBS. Era uma planilha bomba.

 

Os auditores do TCU concluíram que muitas das operações firmadas com o frigorífico foram prejudiciais ao banco estatal. Pelas análises, as operações que maior dano provocaram foram as realizadas pelo BNDESPar, o braço de participação acionária da instituição. Em vez de simplesmente emprestar dinheiro para a empresa – que assumiria o risco do empréstimo –, o banco tornou-se sócio do negócio, em percentuais acima de 30%, mais do que era permitido pelas regras do próprio BNDES. O TCU estimou que as perdas do banco com a JBS podem ultrapassar 1,2 bilhão de reais. Em abril, o TCU julgou irregular uma das operações feitas pelo banco com o frigorífico (a compra da americana Swift Foods pela JBS, em 2007). Apesar de tudo, o ressarcimento pedido pelo Tribunal foi de meros 70 milhões de reais.

 

A decisão do TCU, no entanto, foi o estopim que deflagrou a operação Bullish, da Polícia Federal, que, na sexta-feira passada levou Wesley, um dos irmãos Batista, a depor coercitivamente na Polícia Federal. Joesley Batista e Luciano Coutinho também foram convocados, mas estavam no exterior. Trinta e sete funcionários do banco receberam mandados de condução coercitiva para prestar esclarecimentos. Coutinho enviou em 16 de maio deste ano uma carta à piauí afirmando que as operações foram absolutamente legais.

 

Além do TCU, os irmãos Batista também estavam sob a mira de outra operação, a Greenfield, que investiga prejuízos sofridos por fundos de pensão dos funcionários de empresas estatais, entre eles a Funcef, da Caixa Econômica Federal, e a Petros, da Petrobras, em negócios com grandes empresas, JBS incluída. Em setembro do ano passado, os dois irmãos chegaram a ter os bens congelados por ordem judicial e foram proibidos de continuar à frente dos negócios. Só conseguiram desbloquear o patrimônio após depositarem 1,5 bilhão de reais em um seguro-garantia. Eles também eram alvo da operação Carne Fraca, que investigava a compra de fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para que fizessem vista grossa a negócios irregulares tocados por frigoríficos.

 

Perguntei a um integrante do TCU o que ele achou do desfecho da delação dos Batista. “Espero que as vantagens que receberam em troca realmente tragam algum benefício para o país”, ele me confidenciou. “Um acordo desses tão vantajoso para os criminosos só vai valer a pena se for para renovar definitivamente o cenário.”